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PARCELAMENTO SEM JUROS NO CARTÃO: ALGUÉM TEM RAZÃO?

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O parcelamento sem juros no cartão de crédito levantou uma disputa entre bancos e operadores de maquininhas independentes de cartão. A guerra foi deflagrada com a possibilidade de o Banco Central limitar o parcelamento sem juros do cartão de crédito e acabar com o rotativo.
Josilmar Cordenonssi Cia, docente de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, considera que há, na verdade, uma “briga” entre administradoras de cartão de crédito, comerciantes e os usuários (consumidores).
“O Banco Central tenta coordenar e alinhar os interesses das partes. As empresas que oferecem as maquininhas ficam do lado dos lojistas, pois quanto mais transações (e parcelas) são feitas, maior é a receita dessas empresas”, diz Cordenonssi.
Inadimplência no rotativo é de 40%
Ele destaca que os consumidores sofrem uma taxa de juros muito alta quando deixam de pagar a totalidade da fatura do cartão, que é chamado de crédito rotativo, oferecido pelas administradoras (bancos), que dizem que os juros são altos porque a inadimplência é alta. “E, realmente, a inadimplência passa de 40% dos usuários de cartões de crédito”, destaca.
Os bancos, ao defender o crédito rotativo, contra-argumentaram que as altas taxas de juros se devem ao “excesso” de parcelas “sem juros” que o comércio faz; os consumidores perdem o controle de suas finanças e acabam inadimplentes, segundo as instituições financeiras. “A questão não é ter razão ou não, todo mundo está tentando defender seus interesses”, analisa o docente.
Cordenonssi salienta ainda que o custo financeiro do “parcelamento sem juros” é bancado pelos lojistas, pois eles receberão um valor descontado das parcelas a serem pagas pelos clientes, mas quem tem o risco de inadimplência são os bancos (administradoras de cartão). Se o cliente não pagar a fatura, o banco pagará o lojista.
Para o docente, apesar de existir a possibilidade de o BC limitar os juros no cartão de crédito e acabar com o rotativo, ele não acredita que isso irá acontecer, pois o parcelamento “sem juros” é uma forma consagrada de financiamento das compras no comércio.
“Como grande parte do faturamento dos comerciantes se dá nesta modalidade, há muita resistência desta prática ser mudada”, diz, ao lembrar que só no Brasil existe parcelamento no cartão de crédito. “Isto mostra que o nosso mercado de crédito sofre de anomalias muito sérias que impedem o seu crescimento e desenvolvimento.”
josilmar cordenonssi cia: professor lembra que pix parcelado pode ser alternativa ao parcelamento no cartão
Alternativas ao parcelamento sem juros
Diante de tudo isso, acrescenta Cordenonssi, as distorções que existem nos cartões de crédito são reflexos de causas mais estruturais da economia brasileira. “Acredito que, enquanto as soluções das questões estruturais não surgem, deve-se investir em soluções microeconômicas, como o Pix Parcelado, que pode se tornar um grande concorrente do cartão de crédito e forçando uma redução dos custos de transação e de financiamento do crédito.”
Ele explica que, caso haja uma redução ou teto do número de vezes no “parcelamento sem juros”, os consumidores tenderiam a comprar menos, e os lojistas a faturar menos. “Mas os índices de inadimplência tenderiam a melhorar. Entretanto, o custo político desta medida seria muito elevado”, finaliza.
O professor ressalta que há questões macroeconômicas: por conta da falta de um ajuste fiscal duradouro, o governo é obrigado a oferecer títulos com taxas de juros elevadas para financiar a sua dívida. Ou seja, o custo do dinheiro na captação dos bancos já é alto na comparação internacional.
“Com um sistema tributário pesado e arcaico, alimenta um setor informal em que os negócios e empregos gerados sejam de baixa qualidade e de alto risco de ficar desempregado, aumentando as chances de inadimplência. A falta de concorrência bancária aliada à dificuldade jurídica de se cobrar os devedores fazem com que as taxas sejam altas, especialmente para as pessoas físicas”, finaliza.

FONTE: 22/09/2023 – MONITORMERCANTIL

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