No último dia de funcionamento do mercado financeiro em 2023, o dólar fechou a R$ 4,85, queda anual de 8,06%, maior baixa desde 2016. O resultado surpreendeu parte do mercado, que ainda acreditava em uma recuperação da moeda em um ano de perda considerável. Na última sessão do ano, o Ibovespa fechou atingindo 134.209,40 pontos, após renovar marca histórica na véspera. No acumulado do ano, o principal índice da Bolsa de Valores B3 avançou 22,3%.
Apolo Duarte, head de renda variável e sócio da AVG Capital, ressalta que a maior parte das empresas do Ibovespa teve boa performance. “O ano de 2023 foi marcado por extremos. No início do ano, o investidor estava muito pessimista com o Brasil devido ao novo governo e incertezas globais, contudo conforme o ano foi passando tivemos avanços de pautas políticas importantes. O controle da inflação começou a fazer efeito, e as incertezas globais diminuíram”, comenta.
Segundo Duarte, é possível que estejamos começando um novo ciclo de alta na Bolsa de Valores, que é tão esperado faz alguns anos. “Quando olhamos para o histórico parece que a Bolsa brasileira, ainda tem um bom gás pela frente, pois está negociando abaixo das médias históricas, mesmo após essa alta. Mas é importante manter o olhar no cenário lá fora, acompanhar a evolução dos resultados das empresas, cenário político/fiscal interno e o macro precisa ajudar para que isso se concretize”, relata.
Rodrigo Cohen, analista de investimentos e cofundador da Escola de Investimentos, recomenda ao investidor ficar atento muito ao que vai acontecer em relação aos juros no mundo. “Dados recentes de inflação nos EUA apontam para um cenário de queda de juros por lá. Então, com isso, me parece que o dólar a princípio não terá um ano de alta em 2024. Também não acredito que vai chegar a R$ 7, como muito se falou, não chegou nem perto disso. Então, eu acho que o investidor tem que ter sempre cautela, tem que ter sempre, na minha opinião, diversificação. Não colocar todos os ovos na mesma cesta, mesmo que muitas vezes seja bem atrativo”, afirma.
Além da Bolsa de Valores, destaque para criptomoedas
Além de ações, um investimento que Cohen considera promissor para 2024 são as criptomoedas. “Eu vejo que um dos investimentos que mais se valorizou nesse contexto todo foram as criptomoedas, assim como o mercado de ações, tanto o Ibovespa como S&P. Na minha visão, o melhor de todos nesse ano em termos de valorização, apesar de toda a volatilidade, foi criptomoeda. O bitcoin costuma acompanhar os índices mundiais, principalmente, as Bolsas dos EUA. E com as Bolsas subindo lá, criptomoedas também tiveram valorização”, diz. Ele destaca ainda que 2024 é o ano do halving do bitcoin (corte de 50% dos bitcoins em circulação), então ressalta que há uma grande chance de a criptomoeda subir.
Na opinião de grande parte dos analistas, em 2023, os fundos de investimento de renda fixa foram os únicos, junto com os de previdência, a acumular captação líquida positiva. Depois deles, os estruturados também tiveram captação líquida no ano. Os FIDCs e FIP acumulam captações de R$ 32 bilhões e R$ 46 bilhões, respectivamente.
“Como os [fundos] multimercados tiveram um ano ruim, muitos investidores optaram por sair para diminuir o risco da carteira e buscar conforto em títulos de renda fixa, aproveitando que o juro ainda está alto. O investidor não opera como deveria, sempre olhando o passado para tomar decisões futuras”, afirmou Renato Abissamra, CEO da Spectra, em entrevista à Exame Invest.
Mas agora, com a taxa de juros caindo, Abissamra espera que os multimercados se tornem uma das principais alternativas. “O ano que vem deve ser melhor em termos de captação, principalmente pelo incentivo da queda de juros”.
Anderson Silva, head de renda variável e sócio da GT Capital, lembra que o cenário de 2024 será de queda de juros e, nesse contexto, os custos de empréstimos e financiamentos tendem a diminuir também.
“Isso significa que as empresas do setor de varejo podem obter capital mais barato, facilitando a expansão, investimentos em estoque e melhorias nas instalações. Historicamente taxas de juros e mercado de renda variável andam em direções opostas e enquanto a taxa de juros e renda variável continuarem andando em direções opostas com juros para baixo, o mercado de ações tende a apontar para cima, principalmente as ações de crescimento”, comenta Silva.
Três ações para ficar de olho em 2024
Já no mercado de ações, Leonardo Piovesan, analista fundamentalista da Quantzed, indica a Moura Dubeux (MDN3), Eucatex (EUCA3) e Portobello (PTBL3) como as três principais ações para ficar de olho em 2024.
“A Moura está passando por um ciclo de grandes lançamentos e bastante obra em andamento com entregas para fazer em 2024 e 2025, então a empresa está passando por uma fase de queima de caixa e bastante obra. E um dos atrativos é que a empresa deve iniciar um ciclo de pagamento de bons dividendos a partir de 2025, quando a companhia termina essas obras, faz as entregas dos imóveis e começa a gerar a caixa. Então eu estimo um dividend yield de 2 dígitos a partir para 2025”, diz.
Para Eucatex, Piovesan projeta um crescimento de resultado: “Conforme a economia for reaquecendo, o setor de material de construção vai reaquecer também, e é bem provável, bem possível que ela tenha um crescimento de resultado para ano que vem”.
Em relação a Portobello, o analista destaca que é uma empresa que tem duas vertentes de crescimento forte. “Uma delas é a Portobello Shop, que é uma rede de varejo que tem mostrado um forte crescimento nos últimos anos, mesmo com um período de economia difícil, com juros altos, crédito apertado, o que está fazendo esse setor sofrer, mas essa rede está indo bem. A empresa lançou recentemente também uma fábrica nos Estados Unidos que entrou em operação e deve gerar um crescimento bom de resultado consolidado para 2024”, finaliza.
FONTE: 28/12/2023 – MONITORMERCANTIL
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